A vida é tão inevitável quanto a morte. Sinto em minha pele os efeitos da vida, em cada cicatriz, em cada linha de expressão, em cada veia pulsando, nas mãos ressecadas e nos pelos do braço arrepiados. Sinto a vida fluir e eu sou meu próprio fluido, latente, quente e desesperado. Renasci em 1997, no Planeta das expiações, em uma época peculiar devido a crescente desconexão do ser humano com os seus, com ele próprio e, sua consequente fuga para o irreal. Os que vieram comigo não aprenderam a apreciar o mundo por seus próprios olhos. Essa aspereza quase que inerente a nós, se manifesta nas diversas tentativas de auto compreensão à partir da projeção no outro. 

Pra mim, eu sou o eterno possível. O céu já não me revela mais seus segredos mas continuo conversando com os que vieram antes de mim. Eles puderam observar meus muitos dias de luta e me convencem a acreditar no amanhã, mesmo quando a vida dispara os efeitos mais devastadores em meu corpo. 

Alguns dias eu tento olhar pra minha alma refletida no espelho e espero ela me tocar. A profundidade é tanta que temo minha própria alma. São várias luzes multicoloridas, eles disseram, e algumas eu enxergo ao longe sob a névoa densa. Mas não sou mais capaz de ouvir o que ressoa para além dos sussurros do nevoeiro. Estou entrando cada vez mais fundo do que eu implorei aos céus quando renasci desta vez. A gravidade não existe neste lugar, se posso chamar assim. Tudo está planando e planando.. são pequenas crisálidas de ar que estouram e libertam fragmentos adormecidos de tudo que me compõe: outras vidas que eu pude viver, quase como sonhos frágeis que desaparecem ao despertar. Eu não sou capaz de entendê-los ainda, me disseram. Mas insisto em explorar o que está havendo nas profundezas dessa floresta flutuante. As luzes ficam mais visíveis quando decido enxergá-las sem nenhuma névoa. É arrepiante estar tão próxima da elucidação e ao mesmo tempo, tão longe. Seria isso apreciar o mundo por meus próprios olhos? 

Mas enfim é chegada a hora de retornar. Mais uma vez, os meus me tocam para me trazer de volta ao Planeta das expiações. O sopro da vida me conduz ao caminho que encontrarei outros que viverão o mesmo mundo que eu. Sinto em minha pele os dias e as noites que compõe minha trajetória, aqui.

Listen: Chouchou;another dawn.

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]